segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

O que custa mais: corrigir falhas em apliçações Java ou Cobol?

Aumenta a quantidade de software mal projetado no mercado mundial, criando uma série de riscos para as organizações, revela relatório global que analisou 745 aplicações. Esses produtos apresentam problemas de programação que violam as boas práticas de arquitetura e de codificação, contribuindo para elevar o chamado débito técnico, que vem ganhando ampla atenção no mundo corporativo.

O termo débito técnico está sendo utilizado pelo mercado para definir a dívida que as equipes de desenvolvimento assumem quando escolhem uma metodologia mais fácil e rápida para criação de aplicativos. Esse tipo de abordagem pode comprometer a qualidade do software e trazer impacto para as companhias no longo prazo.

Os especialistas dizem que assim como o saldo negativo em banco exige pagamento com cobrança de juros, a dívida técnica também pode ter custo alto para as corporações. Uma hora ela precisa ser quitada com a correção das linhas dos códigos escritos errados.

A pesquisa das 745 aplicações foi realizada pela Cast Software, desenvolvedora de ferramentas que avalia a solidez de engenharia da arquitetura e codificação de um aplicativo. A empresa analisou programas de 160 companhias de aproximadamente 12 segmentos da economia.

Uma das conclusões do estudo é que o desenvolvimento de programas com códigos de má qualidade é muitas vezes resutado das decisões de negócios de cortar custos. Para reduzir os investimentos dos projetos, as companhias acabam contratando programadores sem muita habilidade.

Outro fator é a pressão em cima da equipe para que as aplicações sejam desenvolvidas rapidamente para cumprir o cronograma dos projetos. O reflexo são programas que causam falhas de sistemas, diminuem o desempenho dos computadores e abrem brecha de segurança para ataques, entre outros problemas.

Reparar as linhas de código depois que o software está pronto, além de custar muito causa problemas técnicos. Um exemplo histórico de débito técnico foi o “Bug de 2000”, quando muitas aplicações estavam prontas para interpretar os dígitos “00” na virada daquele ano como 1900.

Organizações em todo o mundo gastaram somas incalculáveis de dinheiro para corrigir os dois dígitos. Muitas das aplicações foram destruídas porque desenvolvedores sabiam que o erro surgiria eventualmente.

Custo da correção

A análise da Cast encontrou 1,8 mil tipos de falhas de desenvolvimento em aplicações escritas em Java EE, Cobol, .Net, C, C + + e outras linguagens de programação. A companhia estima que o custo médio para eliminar os bugs por linha de código é de 3,61 dólares. Esse cálculo se baseia no preço hora de 75 dólares cobrado nos Estados Unidos para correção de erros de software.

Outra constatação da pesquisa da Cast é que corrigir falhas de aplicativos desenvolvidos em Java custa mais. O preço para eliminar bugs desta tecnologia é de 5,42 doláres por linha de código, enquanto o mesmo trabalho na plataforma Cobol sai por 1,26 dólares.

Bill Curtis, cientista-chefe da Cast, explica que corrigir linhas de código de Cobol custa menos porque a linguagem é mais antiga e os programadores são mais experientes. Por estarem atuando há mais de 30 anos com nessa tecnologia, eles conseguem corrigir falhas críticas mais rapidamente.

Sobre Java, Curtis constata que há muitos profissionais iniciando agora o desenvolvimento nesta linguagem sem formação científica em computação. “Tem uma enorme quantidade de pessoas escrevendo código sem ser guru em engenharia de software", percebe o executivo.

Implicações do débito técnico


O estudo da Cast reforça a necessidade de as companhia entenderem as implicações do débito técnico, informa Carolyn Seaman, professora adjunta de sistemas de informação da Universidade de Maryland, em Baltimore (EUA), e coordenadora de um programa da National Science Foundation sobre esse tema. De acordo com ela, o tema gera preocupação devido ao risco que pode trazer para os negócios.

O instituto de pesquisas Gartner estima que o débito técnico no mercado mundial subirá de 500 bilhões de dólares em 2010 para um trilhão de dólares em poucos anos. Para Carolyn diminuir essa dívida não é tarefa fácil. Ela considera que o maior obstáculo é a incerteza sobre adoção de técnicas de desenvolvimento e abordagens que realmente resultam em maior qualidade de software.

O crescimento do débito técnico está estimulando a criação de um guia de riscos para os negócio informa John Heintz, consultor técnico da Cutter Consortium. Ele diz que esse problema já está sendo tratado como uma questão de due diligence em fusões e aquisições, aumentando a consciência de que o tema está influenciando as práticas de desenvolvimento de software.

Na opinião de Heintz colocar mais atenção sobre o débito técnico não significa que os desenvolvedores não tenham de diminuir gastos para acelerar o desenvolvimento. "Às vezes é apropriado e necessário cortar custos, mas esse fato não pode ser ignorado”, disse ele.

O Software Engineering Institute (SEI) da Universidade Carnegie Mellon, centro de pesquisa financiados pelo pelo Departamento de Defesa dos EUA, está trabalhando a questão do débito técnicos há cerca de dois anos. A instituiçao vem organizando workshops sobre o tema, de acordo com Ipek Ozkaya, membro sênior da equipe técnica.

"Existe interesse crescente neste assunto porque empresas e desenvolvedores querem entender seus fundamentos", afirma Ozkaya. Ele observa a falta de orientação sobre como fazer o levantamento dessa dívida e como quitá-la para evitar implicações futuras.

Fonte: ComputerWorld

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